O que exatamente uma guerra que acontece a 14.400 quilômetros de distância do Brasil tem a ver com o agronegócio? Esta é uma questão que desde o início do conflito armado entre a Rússia e a Ucrânia em fevereiro de 2022 tem sido alvo de questionamentos por parte dos estudiosos do agro brasileiro. A AgroNotícias buscou um dos maiores especialistas no assunto para falar do tema, o economista e Bernardo Silva, diretor executivo do Sindicato Nacional das Indústrias de Matérias-Primas para Fertilizantes (Sinprifert).
Bernardo Silva, diretor executivo do Sindicato Nacional das Indústrias de Matérias-Primas para Fertilizantes (Sinprifert).
De acordo com o dirigente, a Russia e Belarus são importantes fornecedores globais de fertilizantes nitrogenados e potássicos, além de relevantes fornecedores de energia e gás natural (importantes insumos para a produção de fertilizantes), ambos fornecem praticamente 1/3 de todo fertilizante importado pelo Brasil em 2021.
“As restrições logísticas e sanções comerciais impostas por causa da guerra escancaram um problema que já vem se desenhando à décadas e se somam aos gargalos criados pela pandemia em termos de disponibilidade de fertilizantes no mercado”, explicou Silva.
Dado que o Brasil é o maior importador de fertilizantes do mundo e o quarto maior mercado consumidor de NPK – sigla para nitrogênio, fósforo e potássio-, com mais de 85% de dependência externa, tal situação impõe sérios riscos em termos de oferta e preços de fertilizantes e, consequentemente, à renda dos agricultores brasileiros – 50% da produtividade da lavoura está relacionada à aplicação de fertilizantes.
A crítica dependência externa brasileira somada à escassez de fertilizantes no mercado global, portanto, criam uma “tempestade perfeita” que impactará de forma mais profunda os agricultores nacionais e a economia brasileira em comparação às outras potencias agrícolas menos dependentes de fornecedores estrangeiros.
Questionado sobre como o Brasil pode fazer para não ser prejudicado, Bernardo Silva contou que o país já vem em um caminho de solução para a questão, o que envolve principalmente promover a competitividade da indústria nacional de fertilizantes, ao mesmo tempo, que busca ampliar o leque de potenciais fornecedores no curtíssimo prazo. “Será necessário que os importantes passos dados não sejam neutralizados com medidas que visam apenas incentivar a importação e tenhamos um olhar estratégico e estrutural para a questão”, informou.
A implementação do Convênio ICMS 26/2021, que criou um cronograma para a isonomia das alíquotas de ICMS entre fertilizantes importados e os produzidos localmente, e que inclui o compromisso de aumento de 35% na produção doméstica de fertilizantes até o final de 2024.
Também, os esforços na chamada “diplomacia dos fertilizantes” trouxeram boas perspectivas para novas parcerias comerciais e alternativas para o fornecimento de insumos para as próximas safras.
Ainda, está em discussão no Congresso Nacional o Projeto de Lei 3507/21, que propõe instituir o Programa de Desenvolvimento da Indústria de Fertilizantes (PROFERT), que traz uma solução para fomentar investimentos em parques industriais de fertilizantes novos e existentes.
Vertentes
O administrador de empresas e broker de commodities, Breno Maia, explicou que o fertilizante tem duas vertentes que afetam muito nos preços. “A primeira é o dólar (câmbio), porém nos últimos meses vem operando em queda, o que é benéfico para o Brasil como país importador. Já a segunda vertente é a própria demanda. O Brasil não está na lista de países com restrições para importação da Rússia e também o Brasil não é auto-sustentável. Creio que com a resolução da guerra teremos acesso mais fácil às importações do que o restante do mundo. E, se o produto fertilizante tem escassez, automaticamente tem o aumento nos preços”, disse.
Alternativas
Com medidas como essas e com o Plano Nacional de Fertilizantes (PNF) apresentado em março, Bernardo Silva disse entender que a agenda de curto, médio e longo prazo está desenhada, restando agora aproveitar a oportunidade que esse contexto traz para deixar de depender da importação e dar valor à nossa indústria. Para isso, é necessário reunir os atores do Governo, do Agro e representantes da indústria de fertilizantes para priorizar e implementar mecanismos efetivos de curtíssimo prazo de forma a aproveitar todo o nosso potencial.
Ainda existem outras alternativas. O uso de compostos orgânicos misturados aos produtos importados, utilizando menor quantidade e ainda o Este composto é tratado e utilizado como adubo. E ainda o uso inoculante de bactérias solubilizadoras de fosfatos, que que conseguem disponibilizar um elemento para a planta, uma vez que o solo tem um estoque bilionário de fósforo que se encontra inerte e que não pode ser aproveitado pelas plantas.
Antes da guerra uma tonelada de potássio era comercializada em média por R$5 mil e atualmente está na casa dos R$7 mil. O potássio é bastante utilizado nas lavouras de milho e soja, esta que agora tem tido um grande crescimento na região. Já o fósforo (MAP) que era vendido a R$4,5 mil a tonelada está sendo comercializado a R$6,5 mil. Também muito utilizado para as lavouras de milho.
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